Ninguém de sã consciência pode ser contra esta iniciativa, porém gostaria
de chamar a atenção para um fato que não podemos aceitar: esta discussão tem
sido conduzida tanto por órgãos públicos como por associações técnicas, porém
sem a participação daquele que vai pagar a conta: o agricultor!
Em legislações similares implantadas em outros países o custo das soluções
para controle de emissões chega a USD 5 mil por trator. Este custo é introduzido
no custo do equipamento e transferido ao preço pago pelo agricultor na aquisição
destas máquinas.
Além disso, estudos realizados nos Estado Unidos analisaram o impacto
potencial na agricultura do país pelo Ato de Segurança Climática (America’s
Climate Security Act), que visa reduzir em 70% as emissões do país até 2050 e
concluíram que esta legislação poderá aumentar os custos de produção em cerca de
USD 6 a12 billion. Os custos de produção do milho, por exemplo, deverão aumentar
em cerca de USD 148,54/ha até 2020.
É evidente que estes aumentos de custos precisam ser transferidos aos
principais países concorrentes, de modo a preservar a competitividade da
agricultura norte-americana, independentemente do que já estejam fazendo para
preservar o meio-ambiente.
Como dissemos antes, apesar de todo o mérito da iniciativa de se controlar
as emissões em máquinas agrícola, não podemos concordar com a forma extremamente
injusta como está sendo proposta. Afinal, quem vai pagar os custos do processo é
um agente que na verdade captura mais emissões do que as emites, ou seja, tem um
balanço positivo de carbono: o agricultor brasileiro!
Esta iniciativa, assim como grande parte das críticas feitas ao setor
agrícola Brasileiro, baseia-se no fato de indicar o setor como responsável por
30% das emissões de gases de efeito estufa. Porém estas afirmações baseiam-se
apenas em metade dos fatos, exatamente o lado negativo, e ignora o lado
altamente positivo da atividade agrícola, que é sua grande capacidade de
recapturar suas emissões e ainda oferecer um saldo positivo, capturando parte do
carbono emitido por outros setores da sociedade (a maior parte deles tipicamente
urbano).
Dezenas de trabalhos científicos já comprovaram que lavouras de grãos sob
plantio direto e canaviais colhidos mecanicamente sem o uso de queimadas,
oferecem um balanço positivo na captura de carbono.
Esta duas praticas são dominante em nossa agricultura tropical e totalmente
diversas daquelas praticadas nos países que controlam emissões por máquinas e
equipamentos agrícolas!
Com a utilização de técnicas como o plantio direto e a rotação de culturas,
nossos agricultores deveriam lucrar com a venda de crédito de carbono, e não
serem penalizados como propõe esta legislação “alienígena”.
Inúmeros trabalhos científicos indicam que, ao contrário do cultivo
tradicional, que promove intensa mobilização dos solos através de operações como
a aração e a gradagem, o plantio direto, aliado à rotação de culturas, tem
capacidade de sequestrar cerca de 0,5 tonelada de CO2 por hectare/ano. Isto já
considerando o balanço entre o que é emitido e o que é capturado durante o
processo produtivo.
Estima-se que atualmente no Brasil cultivamos mais de 35 milhões de
hectares sob plantio direto, o que equivale dizer que todos os anos estas
lavouras capturam cerca de 17 milhões de toneladas de CO2.
Isto se dá pelo fato de que existe três vezes mais CO2 fixado no solo do
que na atmosfera. Se o solo não for manejado de forma adequada, esse carbono é
liberado e contribui para o aquecimento global o carbono produto da matéria
orgânica no solo se encontra protegido dentro de agregados do solo, formados por
um conjunto de partículas que se aderem umas às outras por ação bioquímica. O
plantio direto preserva estes agregados, enquanto o preparo intensivo do solo os
destrói.
Em estudo realizado recentemente por uma rede de instituições de pesquisa,
incluindo várias unidades da Embrapa e a Universidade Federal Fluminense,
constatou-se que o manejo do solo em plantio convencional, com o uso de
gradagens e arados, acumula cerca de duas vezes menos carbono orgânico no solo
do que o plantio direto. De acordo com os resultados deste trabalho, o solo sob
plantio direto contínuo por vários anos evita que 79,4 quilos de carbono por
hectare por hora sejam emitidos para a atmosfera. No solo sob plantio
convencional, o desempenho foi 63,3% inferior.
Outro ponto extremamente importante, e muitas vezes ignorado nas discussões
sobre controle de emissões é de que o Brasil vem percorrendo um caminho próprio
no controle de emissões por veículos. Enquanto na maioria dos países os esforços
se concen controles formaram na tecnologia aplicada aos motores, em nosso país a
maior parte dos resultados alcançados até agora se deu via tecnologia dos
combustíveis, notadamente o etanol. Tanto que hoje o Brasil é o país com maior
percentagem (cerca de 45%) de sua matriz energética originada de fontes
renováveis.
Por falar em etanol, este é outro produto da agricultura nacional que
captura carbono ao longo do seu ciclo de produção e utilização, permitindo uma
redução de até 90% na emissão de CO2, em comparação com o uso da gasolina.
Mas este é um assunto para nosso artigo da próxima semana, pois por hoje já
abusamos do tempo de nossos leitores.
Até lá, PENSE NISSO
Fonte: Amilcar Centeno
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